sábado, 5 de dezembro de 2009

A arma do eleitor não é o voto

A arma do eleitor não é o voto

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Há verdades supostas que se enraízam de tal forma a ponto de, quando a negamos, corrermos o risco de cair no descrédito, e sequer ser merecedor de leitura um texto intitulado pela negação. Pelo visto, amigo leitor, aqui o inverso ocorreu. A curiosidade, ou o desejo de chutar cachorro morto, já que um título como este, que contraria tudo o que escutamos até hoje, certamente é fácil de ser questionado, fez com que o amigo prosseguisse nestas linhas.

Serei curto e claro: se a arma do eleitor é o voto, carece ela de munição, ou tem atirado pela culatra. Será que devemos continuar a usá-la como estamos a fazer? Há quantas décadas nós, os brasileiros, temos usado contra nós isto a que chamamos de arma? Vivemos num País democrático, em que podemos votar livremente e expressar nossas opiniões, isso tudo com as ressalvas e defeitos de uma legislação que distorce o desejo do povo (pelo voto proporcional e pela inexistência de voto distrital ou financiamento público de campanha, por exemplo), e, mais ainda, com a ressalva dos desvios de conduta que levam a resultados indesejados.

A arma do eleitor é a conscientização política dos incautos e dos que “não gostam de política”, que agem como se vivessem sem ela. O voto é apenas a munição, por meio da qual o povo pode alcançar as necessárias mudanças. Bem, ficou claro que não se quer desprezar o valor do voto, mas apenas demonstrar que projéteis não devem ser arremessados um a um, com as mãos. Devem, sim, ser colocados em fitas e pentes, e disparados a partir de fuzis automáticos e metralhadoras em rajada, a que aqui podemos chamar de conscientização política. Não ocuparei linhas para dizer que não estou pregando a violência, mas a pacífica revolução social, por meio da mal utilizada democracia.

Em lugar de simplesmente escolhermos bem os nossos candidatos e concluirmos cínica e preguiçosamente que “fizemos a nossa parte”, sabendo como sabemos a qualidade do que, como povo, temos eleito, devemos arregaçar as mangas e começar, por exemplo, participando de programas voluntários de combate ao analfabetismo, a fim de que as idéias (não só as nossas, mas variadas idéias) cheguem mais facilmente aos neurônios de quem tem escolhido mal, e que nem por isso pode ser chamado de burro. Em seguida levemos alimento, sob a forma de saber, para o sedento cérebro.

Comemorar a democracia como uma expressão bela apenas, mas que não nos tem trazido o fruto devido, é de um egoísmo sem tamanho. Será que os que sofrem sem saúde, sem comida e sem uma educação que possa lhes garantir o futuro estão satisfeitos em apenas podermos nos expressar e votar livremente? Se assim nos sentimos somos tolos e padecemos de autismo político.

Como diz Roque Aras, “a hora é de cada qual cumprir o seu dever”. Troquemos, pois, nossas armas.

Waldir Santos

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